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O açúcar no café

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Por Saimithon Souza
Economista, mestre de torra e proprietário da torrefação Abc do Café

Pelas nossas experiências com degustações no dia a dia, vemos que grande parte do consumo de café no Brasil é feito com o uso do açúcar; e não é pra menos, pois de acordo com levantamentos recentes feitos pela Sucden, multinacional do ramo açucareiro, o Brasil está entre os países com maior consumo de açúcar no mundo. O paladar do brasileiro está amplamente adaptado à sensação doce presente em toda a culinária nacional.

Como estamos adaptados palatativamente ao doce, nos tornamos avessos e sensíveis a qualquer nível mais alto de amargor. Isso faz com que o consumidor brasileiro tenha dificuldades no processo de adaptação ao café sem açúcar. Vemos muitas pessoas com vontade de cortar o doce no café, mas sentem muito com qualquer nível de amargor na boca.

O açúcar tira o verdadeiro sabor do café, fazendo a percepção do gosto ser camuflada pelo doce inserido. Ele também retira o poder antioxidante presente em suas propriedades, causando oxidação na bebida, o que afeta (não causa) a gastrite e a azia estomacal. O açúcar é, reconhecidamente, fonte de muitos malefícios para a saúde humana e por isso fugir do consumo demasiado desse produto é de suma importância para evitarmos problemas de saúde.

Consumir café com açúcar não é problema e nem deveria ser proibido ou se tornar um hábito questionado. O mais importante para quem tem essa bebida, que é paixão nacional, é a experiência e o deleite por ela causado. Beber café deve estar ligado ao prazer e não ao sacrifício, caso haja em enfrentar o amargor.

A dica que damos é tentarmos reduzir o açúcar de forma gradativa na nossa culinária e começarmos a procurar por doces menos doces, como o doce das frutas e cereais, por exemplo.

Outra questão essencial é buscar por cafés com torras mais claras, mas se sua preferência é pelos cafés de torras mais escuras, comece a selecionar diferentes marcas, compre embalagens menores e experimente-os em dias alternados. Os cafés que apresentarem o menor amargor tendem a ser o melhor café a ser consumido – e é aí que deve estar nossa preferência.

Mas devemos ter cuidado, pois muitos de nós, ao descobrirmos e nos apaixonarmos pelo universo dos cafés de melhor qualidade e pelo baixíssimo amargor apresentado em suas infusões, podemos erroneamente passar por um processo de doutrinação radical contra o açúcar, passando a criticar e, por vezes, tentar impor ao outro a nova visão adquirida.

É sempre importante termos cuidado com essa questão, pois cada um de nós tem seu próprio tempo para desenvolver o paladar e, por isso, entender o momento do outro é essencial para curtirmos a relação saudável, calorosa e inspiradora que o café proporciona.